sexta-feira, 23 de março de 2007

Literatura, assassinato e horário nobre



Pra quem curte telenovela e romance policial, aí vai uma dica bem interessante: o livro "98 Tiros de Audiência", de Aguinaldo Silva. Lançado no final do ano passado, a obra conta a história de uma atriz que, após ser assassinada, tem a sua morte incorporada à trama em que estava atuando. Cheio de suspense e sarcasmo, o livro procura instigar o leitor a desvendar dois grandes mistérios: quem matou a personagem e, em paralelo, quem matou a própria atriz.

Pernambucano, jornalista e escritor de telenovelas como "Senhora do Destino", "Tieta" e "Roque Santeiro", Aguinaldo Silva escreveu seu primeiro romance quando tinha apenas 15 anos. Outros livros publicados pelo autor, que recentemente garantiu continuar na tv só até 2010, são:
República dos Assassinos" (1976); "O Crime antes da Festa" (1977) e "Sábado Maldito" (1977).


Acompanhe abaixo trechos de uma entrevista realizada com o autor :

FOLHA - O livro tem quanto da sua experiência de três décadas na TV?

AGUINALDO SILVA - Quase tudo vem de histórias que vivi ou ouvi, só que não são contadas necessariamente como aconteceram. Acrescentei a essas histórias os temperos da ficção. E algumas vezes misturei duas histórias em uma ou alterei algo de algumas delas. Embora seja um livro baseado em fatos reais, é 100% um livro de ficção. Ainda não é o meu livro de memórias.

F - O leitor então, paralelamente ao romance policial, encontra a realidade dos bastidores da TV.

S- Exatamente. A minha intenção foi realmente abrir a chamada caixa-preta. Existe um interesse muito grande em relação a esse universo, que é muito fechado e mitificado. Os personagens envolvidos com o universo da TV são tratados como deuses, e quis desmitificar isso, mostrar que somos seres humanos, que temos paixões, ódios. É um ambiente de grandezas e misérias como qualquer outro. Além disso, eu, que não sou um sociólogo, mas um ficcionista, tive a intenção, que pode parecer pretensiosa, de mostrar como funciona esse universo que ocupa tanto a intenção das pessoas. Queria que daqui a 20 anos, quando alguém quisesse saber como era a televisão brasileira naquela época, pudesse ler esse livro.

F - O livro trata da imprensa com uma boa dose de veneno...

S - Sempre digo que não sou novelista, estou novelista. O que sou realmente é jornalista. Leio três jornais por dia de cabo a rabo. E como fui jornalista durante 18 anos, eu me dou o direito de ter uma postura crítica em relação ao jornalismo especializado em TV. Ao mesmo tempo que o nosso trabalho na televisão é visto com uma certa condescendência pela parte da imprensa encarregada de cobrir esse setor, a televisão é no fundo considerada por quem cobre o tema como uma coisa menor. O tema é ao mesmo tempo muito importante e muito desdenhado. Os editores sabem que precisam falar de TV, mas não a vê como assunto sério. Assunto sério é o cinema iraniano [risos]. Aliás, agora é o vietnamita [risos].

F - Um dos personagens chega a dizer que quem matou Aurora foi a mídia, de tanto explorar sua vida pessoal. Em sua opinião, a mídia é cruel com as celebridades?

S - Tenho visto casos que me deixam chocados. Eu me lembro que durante anos houve uma campanha terrível da mídia contra um cidadão chamado Oswaldo Montenegro, que é um compositor mediano como vários outros do Brasil. Mas de repente ele foi escolhido para ser o exemplo do que havia de mais chato, de mais careta, e era injustificado porque ele fazia shows que eram sucesso. Mas toda hora se lia notas pejorativas e negativas. Algumas pessoas são escolhidas para vítima. "Vamos sacanear o fulano". Mas o mais grave é que esse noticiário especializado em TV ele tem uma tendência a nivelar tudo, nada é profundo, é sério, tudo tem que ser fatiado. Isso acontece muito com celebridades que fogem do padrão, como Aurora fugia. Elas começam a ser fatiadas, desconstruídas, para chegar num nível que seja digerível para o público.


*Entrevista retirada do Folha Online (29/10/06)


Serviço
Título: "98 Tiros de Audiência"
Autor: Agnaldo Silva Editora
Geração Ano: 2006
Número de Páginas: 296


Vendas:
Submarino - R$31,90 + Frete
Livraria Cultura - R$39,90 + Frete
Siciliano - R$35,11 + Frete


Por Renata Cerqueira

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