domingo, 17 de junho de 2007

Ficção Jornalística


O que Fátima Bernardes tem a ver com Maria do Carmo (“Senhora do Destino”)? Essa é uma pergunta que só pode ser esclarecida se levarmos em conta alguns elementos que existem semelhantes nas novelas e em jornais exibidos na TV.

Independência financeira, mulher apaixonada e apaixonante e mãe carinhosa, do Carmo é uma personagem que, através dessas características, se aproxima muito da imagem que nós, telespectadores, temos da jornalista Fátima Bernardes.

Isso ocorre, porque muitos elementos comuns às narrativas ficcionais, sobretudo às telenovelas, foram incorporados pelo telejornalismo, para que ele pudesse informar o público, através de representações factuais que entretivessem os telespectadores.

O resultado dessa experiência é que, se compararmos jornais e novelas exibidos na TV brasileira, encontraremos mais semelhanças do que qualquer um de nós pode imaginar. Personagens construídos engenhosamente, trilhas sonoras compatíveis com os diversos sentimentos que se deseja obter do telespectador e a escolha de enquadramentos que priorizam os aspectos selecionados na hora da construção do produto são características pertencentes aos dois tipos de programas televisivos.

Como afirma Mozahir Salomão, em sua reportagem “O repórter e as armadilhas da narrativa”, “personagens – essa categoria curiosa do atual telejornalismo – parecem ser algo aquém e além do que histórica e tradicionalmente o jornalismo categorizou como fontes e entrevistados”. (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=284TVQ001)

Fátima Bernardes, portanto, é, apenas, mais uma constatação da presença de elementos ficcionais nos telejornais. Assim como Maria do Carmo, a jornalista “chega” até nós previamente formatada como uma personagem. Na nossa mente, o que predomina é a imagem da esposa ideal, mãe perfeita e profissional exemplar.
Embora eu dê “boa noite!” todos os dias a Bonner, terei de continuar, portanto, vendo Fátima por trás da TV, através de uma imagem pensada minuciosamente na sua produção. É isso que dá ficar presa à Facom!

por Juliana Lopes

Cinco Pegadinhas contra a Ingenuidade

As táticas são sempre as mesmas, e as mocinhas ainda caem! Enfurecidas, loucas para conquistar os galãs, as vilãs, há anos, armam as mesmas ciladas e conseguem prender, por quase toda a novela, o amado ao seu lado.

Não é de hoje que as malvadas personagens arquitetam planos mirabolantes para destruírem o amor alheio. O problema é que esses planos não mudam. Entra novela, sai novela, são sempre as mesmas ciladas. Como diz o autor Lauro César Muniz, em entrevista dada em 2005, antes de sair da Globo, “as novelas atuais não correm risco. É tudo previsível para que o público aceite a trama da maneira mais fácil”. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u49420.shtml)

Mas ingenuidade tem limite! No caso das mocinhas, a pureza é tanta que não lhes permite enxergar as enrascadas que as perversas vilãs (redundância, às vezes, faz bem!) já aprontaram para separar, em tramas anteriores, outras moças também ingênuas dos seus respectivos galãs.

Como todo telespectador, também cansada de ver sempre as mesmas coisas, resolvi fazer uma lista com os cinco truques diabólicos e as cinco reações mais constantes das vilãs diante das mocinhas nas telenovelas:

1- Golpe da Barriga: “eu estou grávida dele! É o fruto de uma linda noite de amor!”.

2- Flagra do Beijo Forçado: “você? Aqui? Espere! Volte!”.

3- Sonífero na Bebida do Galã, para deitar-se ao lado dele: “calma, não é o que você está pensando!”.

4- Foto Forjada do Galã com Outra Mulher: “é difícil, mas tente aceitar!”.

5- Rapto do galã no Dia do Casamento com a Mocinha: “mas que canalha! No dia do próprio casamento? Melhor assim! Ele não te merecia!”.

Todo mundo, enfim, está cansado de ver, diariamente, essas mesmas ciladas. Mas relevemos! Se não fossem elas, o casal principal não ficaria separado até o penúltimo capítulo da novela (porque o último já é casamento e nascimento), e a gente não perderia meses para ver o final feliz do bem, contra o "trágico fim do mal".

por Juliana Lopes

Pitanga e Pimenta


O que está acontecendo com os nossos valores? Das duas, uma: ou a gente está passando por uma profunda revisão das nossas concepções acerca dos seres humanos ou autores estão errando nos cálculos de recepção dos seus personagens.

De umas tramas para cá, o lado bom das novelas parece não estar agradando muito o público. Prova disso é a aceitação que Paula (Alessandra Negrini) e Daniel (Fábio Assunção) estão tendo do público, em “Paraíso Tropical”. Com um dos menores índices de audiência dentre as últimas novelas das oito da Globo, o casal parece não ter caído na graça dos telespectadores.

Por outro lado, os vilões estão roubando a cena (sem trocadilhos!). Quem não se lembra do sucesso de Bia Falcão (Fernanda Montenegro), em “Belíssima”? Com a sua irreverência e seu “sarcasmo irônico”, a malvada personagem conquistou o país.
Algumas tramas depois, a onda da vez, agora, é Olavo (Wagner Moura) e Bebel (Camila Pitanga), também da novela “Paraíso Tropical”. Se o casal protagonista não está dando certo, o relacionamento apimentado e envolvente, num estilo “Linda Mulher” de ser, tem conquistado fãs e ibope para a trama. Mais uma vez a torcida é para que eles se dêem bem no final da novela, mesmo que Olavo destrua a vida de Daniel. Isso é o que menos importa!

Não sei se estamos invertendo nossos valores ou se os autores têm errado “na mão”, mas que os personagens bonzinhos estão, cada vez mais, insosos e insuportáveis, isso ninguém pode negar! O autor José de Abreu justifica, num chat, a insatisfação do público com os protagonistas das novelas através do marasmo da semelhança existente entre os personagens bonzinhos: “o mocinho tem que ser mais ou menos igual”. (http://videochat.globo.com/GVC/arquivo/0,,GO5918-3362,00.html)

Por outro lado, a intensidade de emoções que os vilões têm-nos despertado é o que tem feito algumas tramas “díficeis de encarar” subir uns pontinhos no ibope. É aquela velha história: “há males que vêm para o bem”.


por Juliana Lopes

Por Trás da Batina


Aproveitando a recente visita do papa Bento XVI ao Brasil, esse post vem mostrar como algumas telenovelas têm representado a figura dos padres católicos brasileiros.

Jovem ou velho, rebelde ou conformado, o padre tem sido figura constante e de extrema importância nas telenovelas. Sempre ouvindo confissões (muitas delas, atreladas aos principais mistérios das tramas, como crimes e traições), por trás da batina, muitas vezes, há um mundo desconhecido, que difere de uma novela para outra.

Na ficção, há diversos tipos de padre. Há aqueles que respeitam os dogmas católicos, seguindo, à risca, o celibato e chegando a punir-se (quem nunca viu as “autochibatadas”?) só por pensarem coisas mais quentes.

Existem, também, aqueles mais velhos, geralmente de igrejas de cidades pequenas e antigas, que levam a vida bebendo vinho, fofocado “ de leve” e encobrindo as loucuras de amor do casal protagonista.

E temos aquele padre que, semelhante ao primeiro tipo citado, luta contra seus próprios instintos, para não ceder ao pecado da tentação, mas não resiste e acaba se rendendo ao amor, abandonando a batina.

É claro que, como quase toda ficção em TV, esses perfis são, apenas, representações de um objeto real, podendo ser construídos de forma simplificada e estereotipada.
Márcia Leite, na sua coluna “O Povo Brasileiro Vive ‘No Limite’ da Casa do Brother”, mostra um pouco da presença dos estereótipos em programas televisivos, através de comparações entre novelas e Big Brother. (http://www.tvebrasil.com.br/educacao/colunas/coluna_2b.htm)

De forma caricaturada ou não, entretanto, essas são algumas das maneiras mais recorrentes de encontrarmos a figura do padre católico nas tramas brasileiras de TV. Culpado, fofoqueiro ou homem apaixonado, mais do que nunca (sem trocadilhos!), constatamos que há muito mais coisa do que se pode imaginar por baixo de uma simples batina.

por Juliana Lopes

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Um outro desabafo nada Jornalístico*

*embora a proposta do blog seja jornalística, aqui também há espaço para um ou outro texto de caráter mais subjetivo, uma vez que também de idiossincrasias vive o homem.


Novela indo embora é sempre sinônimo de tristeza, certo?

Bem, tratando-se do final de Pé na Jaca, a resposta certamente é um estrondoso "não". Acho até que é uma questão pessoal mesmo, confesso. Tanto é que, mesmo sem gostar da trama, consigo reconhecer que a novela soube imprimir um ritmo narrativo e um conjunto de referências que fogem da tradição da teledramaturgia brasileira. No entanto, mesmo assumindo tudo isso, continuo achando que algo de importante se perdeu pelo meio do caminho... e, pelo menos pra mim, esse algo fez toda a diferença entre gostar ou não da novela - e, de fato, eu detestei.

Um dos pontos que mais me incomodou na trama, por exemplo, foi o fato de não conseguir acompanhá-la. Bastava eu ficar um ou dois dias sem assistir à novela, e pronto! Já não mais podia entender o que estava se passando. Senti falta da repetição que é característica das produções seriadas televisivas... até porque, como se sabe, um dos principais objetivos dessa repetição é justamente fazer com que o público não fique pelo meio do caminho na história - mais ou menos como eu fiquei desde o início em Pé na Jaca...

Mas, só para deixar claro para os fãs dos ritmos narrativos mais acelerados, a velocidade com que as histórias se desenrolavam não consituiu a única razão do meu desgosto diante da trama. A presença de personagens caricaturais também não me agradou; ao contrário, ficou parecendo muito mais uma tentativa simplista de tentar provocar risadas no público - o que, de fato, acabou acontecendo mesmo...

É por essas e outras que hoje (dia de último capítulo) eu estou muito feliz! Afinal, já faz algum tempo que descobri que prefiro muito mais correr o risco diante dos sete pecados capitais, do que ter que enfiar, todo dia, o meu querido pé na jaca - e pior, ainda ter que tentar rir com isso.


Por Renata Cerqueira

O outro lado da moeda


Escritor de obras como "Fera Ferida", "Pedra sobre Pedra" e "Vale Tudo", Aguinaldo Silva será o próximo queridinho da Globo a ocupar a cadeira da teledramaturgia no horário nobre. A trama da vez, como já havia sido noticiada aqui no blog, irá se chamar "Duas Caras" e terá suas primeiras filmagens realizadas em vários estados brasileiros. No entanto, ao contrário da notícia que circulava semanas atrás, a novela não manterá um núcleo em São Paulo até o fim.

De qualquer forma, ainda dá para comemorar bastante... afinal, o público conseguirá finalmente ter uma folga de Copacabana, que cederá seu espaço para lugares como uma favela fictícia no Rio de Janeiro.

Mas, deixando os cenários de lado, a questão da vez é: será que nós podemos interpretar que o nome "Duas caras" representa, dentre outras coisas, uma crítica indireta à representação extensiva de um só lado do Rio?

Enquanto a gente não tem uma resposta, leia abaixo alguns trechos da entrevista realizada com Aguinaldo, no último dia 12.

OFuxico - Como será Duas Caras?

Aguinaldo Silva - Será um novelão que segue o meu estilo de trabalho, nos quais os personagens tem características muito próprias dos cidadãos brasileiros.

OF – Você pretende destacar alguma região como cenário, conforme foi mostrado o Nordeste em Tieta?

AS – Não, nos primeiros 35 primeiros capítulos da novela vamos gravar em diversos estados, como Santa Catarina, Pernambuco, Paraná. Ainda teremos um núcleo em São Paulo. Isso dá mais ou menos um mês e meio de exibição. Depois, esse núcleo se transfere para o Rio de Janeiro.

OF – Duas Caras foi inspirada em alguma obra específica?

AS – Não, cansei de ser a azeitona da empada dos outros (rs), como foi o caso quando adaptei as 4800 páginas de Tieta da obra de Jorge Amado. Agora só trabalho em coisa minha.



Acompanhe a entrevista na íntegra aqui.


Por Renata Cerqueira

A volta (e o visual) por cima


Em algumas telenovelas, a mocinha cansa de tanto sofrer e resolve dar a volta por cima. Elas ficam mais seguras, passam a andar com a cabeça mais erguida e, ainda por cima, desenvolvem, de uma hora para outra, uma língua pra lá de afiada. O resultado é simples: todos, bem espantados, mal acreditam no que estão vendo... e ponto pra elas!

No entanto, tudo isso não teria a menor graça se uma outra transformação também não estivesse presente: a repaginada no visual. Acontece mais ou menos assim: um dia as mocinhas se revoltam com todos aqueles trajes leves e delicados que romantizam a sua aura e resolvem partir para algo mais marcante, talvez até sensual. A partir de então, toda a mudança passa a estar, literalmente, estampada sobre seus corpos.

Comprovando essas observações, está a personagem Nina, de Eterna Magia. Depois de sofrer uma grande decepção amorosa, a doce e delicada garota resolverá adotar uma postura diferente nos próximos capítulos. Arrasada com toda a traição sofrida, ela se olha no espelho e decide cortar seus cabelos ali mesmo, fazendo com que, neste exato momento, surja uma outra mulher diante da vida...

Tá, confesso que lembrei um pouco de Ana Francisca (em Chocolate com Pimenta), mas, como sempre dizem nas telenovelas, qualquer semelhança não passa de uma mera coincidência...


Por Renata Cerqueira

Cadê a fonte?




Segundo uma nota divulgada hoje pela Folha, o ator Fábio Assunção se ausentou por uns dias da gravação de Paraíso Tropical. De acordo com a colunista Fabíola Reipert, especula-se nos bastidores que o protagonista da atual novela das oito tenha se afastado por conta de "motivos pessoais".

Até aí, nada demais. No entanto, o que chama a atenção é o destaque que foi dado a um caso sem maiores apurações: a notinha estava como manchete na página principal da parte de televisão do site - que, por sinal, não se intitula como um espaço para boatos dos famosos.

Mas a questão é: que tipo de credibilidade existe em uma apuração que nitidamente não conta com nenhuma fonte? Será justo que, diante de uma série de sites que já se dedicam a fofocas, um leitor mais exigente tenha que se deparar com notícias-fofocas em um jornal que prima pela credibilidade?


Fica a dica: para quem gosta de fofoca, visite O Fuxico. Pelo menos o nome já avisa.


Por Renata Cerqueira

domingo, 3 de junho de 2007

Por alguém de verdade


Eu não gosto das mocinhas. Sempre boas, puras e com a fala mansa, não é à toa que elas conseguem irritar tanto as vilãs.

Tá, mas eu também não gosto das vilãs. Sempre com aquele ar pesado, pensamentos sombrios e risada maquiavélica, não me espanta que atormentem constantemente as mocinhas.

Não, eu não estou confusa. É que o fato de quase tudo ser em preto ou branco nas telenovelas vem me incomodando. Tudo tão maniqueísta e exarcebado! As mocinhas combatendo o mau, as vilãs armando planos intermináveis - quase um daqueles contos de fadas com bruxas e princesas, com a diferença de que, pelo menos até onde se sabe, não existem dragões ou sereias nos cenários de Copacabana...

Comecei a pensar em tudo isso depois que li uma matéria sobre Heroes, um seriado norte-americano. No texto, alguém dizia que o motivo de tanto sucesso da produção estava ligado ao fato de que os personagens eram, apesar de seus superpoderes, tangíveis, humanos... e, com isso, seres complexos, dúbios, instáveis. Segundo a matéria, isso atrairia o público, uma vez que proporcionaria um maior grau de identificação com o telespectador (que, afinal de contas, também gosta de se reconhecer ali na telinha).

Transpondo essas observações para o universo do blog, acho que essa complexidade falta em muitos personagens de telenovelas. Talvez porque se pense que recorrer a figuras dúbias pode representar um risco... afinal, é mais simples e certeiro repetir as velhas fórmulas de sempre. O bom que só faz o certo, o mau que só age de forma errada e o telespectador que sempre acompanha à mesma separação.

Tudo isso cansa. E o risco aqui está em se quebrar aquele pacto ficcional em que o telespectador assume: "eu sei que vocês estão interpretando, mas eu fingirei que é verdade...". Afinal, diante de tanto maniqueísmo, será que dá mesmo para o público acreditar, por mais de alguns instantes, na veracidade dessas atuações?


Por Renata Cerqueira

Revistas Velhas


Faz um bom tempo que não compro revistas de telenovelas. Não, engana-se quem pensa que isso tem a ver com os preços ou com a minha falta de curiosidade em descobrir o que irá acontecer nos próximos capítulos. Abandonei essas revistas por um outro motivo: a sensação de que estou sempre lendo as notícias de ontem.

Pode prestar atenção: basta você ir ao mercado de quinze em quinze dias e você verá que as manchetes são sempre as mesmas. "Fulano tenta matar sicrano", "Fulana descobre que está grávida", "Não-sei-quem sofre um acidente" e por aí vai. No entanto, tem uma notícia em especial que vem me chamando a atenção. "Taís tenta atrapalhar o romance de Paula e Daniel". Gente, cansei.

Não faz nem tanto tempo assim que o casal finalmente conseguiu se reencontrar, mas a tal da Taís já armou um milhão de planos para tentar separá-los. E o pior, as revistas noticiaram cada um deles, como se não existissem outras manchetes na novela. Tudo bem que eles são os personagens centrais, mas será que é só isso que pode ser explorado nesse núcleo? E caso seja só isso, será que não se pode pelo menos tentar disfarçar tanta mesmice?

A sensação que eu tenho é que eu posso comprar essas revistas e guardá-las para sempre no meu armário, trocando apenas os nomes dos atores e dos personagens, a cada nova trama que chegar ao ar. Pode apostar como vai caber quase direitinho, afinal, não é difícil perceber que tal repetição não se restringe à "Paraíso Tropical".

Pronto, acabei de ter uma idéia brilhante de como economizar dinheiro e continuar lendo notícias "fresquinhas" de telenovelas. Pelo menos alguém tem que tentar ser esperto, né?

FIM.

Por Renata Cerqueira

O que você faria?


O que fazer quando se descobre que está apaixonado pela namorada do melhor amigo? E o que fazer quando se descobre que esse mesmo melhor amigo está traindo a mulher que você ama? Você interferiria na situação? Contaria tudo para ela?

Vivendo esse dilema, Lucas de "Eterna Magia", interpretado por Cauã Reymond, não sabe o que fazer. Se antes, enquanto sua amada não era traída, o personagem de Cauã preferiu se calar e não interferir no relacionamento do primo, agora a situação está diferente e mais complicada. Com a entrada de Malu Mader na trama, Lucas já não sabe até que ponto ficar calado diante de uma traição também não seria uma forma de estar traindo a confiança e os sentimentos de Nina, sua paixão secreta de anos.

No entanto, tudo indica que Lucas não contará nada para Nina. De acordo com o próprio Cauã Reymond, o personagem "vê a sedução da Eva (Malu Mader) e do Conrado (Thiago Lacerda), e mesmo sendo apaixonado pela Nina (Maria Flor), ele não se pronuncia, devido ao respeito”, afirma. Em seguida, o ator comenta: "Lucas é o primeiro cara nobre, leal, bom-caráter que eu faço. Eu estou tentando fazer ele de uma forma que não seja bobo. Que a nobreza dele, venha a partir da escolha que ele faz".

Mas, mesmo sem Lucas se pronunciar, a questão é: até quando a traição da irmã e do noivo será segredo diante de Nina? E até quando ele conseguirá esconder seus verdadeiros sentimentos?
E, a maior de todas as questões: e você, no lugar de Lucas, o que faria?


Por Renata Cerqueira

Uma perua diferente


Dizem que filho de peixe, peixinho é. Fazendo jus ao ditado, a atriz Beth Goulart (filha dos também atores Nicette Bruno e Paulo Goulart) conta com mais de 20 telenovelas em sua carreira, totalizando mais de trinta anos de trajetória na televisão. Na pele da perua Neli em “Paraíso Tropical”, a atriz vem chamando a atenção do público, principalmente por sair do estereótipo da “perua fútil”, revelando lados mais profundos em sua personagem.

Acompanhe abaixo uma entrevista que o Pop Tevê fez no fim de maio com a atriz:

Está prevista alguma reviravolta na vida de Neli?


Beth Goulart - Ela vai se separar do Heitor (Daniel Dantas). E é quando perde a estrutura familiar, que ela repensa sua vida. Acho importante o público acompanhar a trajetória dos personagens para, assim, reavaliar a sua. Novela é um espelho da vida.


Apesar da experiência, você já sentiu dificuldade de compor algum personagem?


BG - Já. A Elvira de "A Lua Me Disse". Ela praticava o mal gratuitamente, e eu não conseguia entender o porquê, já que não tinha aquilo em mim. Na época, minha terapeuta disse que minha dificuldade estava em encarar minha própria maldade. Aí percebi que todos têm um monstrinho dentro de si, difícil é reconhecer isso. Às vezes somos maus, egoístas, invejosos. Não podemos negar isso, porque é humano. Sou muito grata a essa personagem, que me ajudou a encontrar e encarar o meu lado difícil.


Seus pais te influenciaram a seguir a carreira de atriz?


BG - Foi vocação mesmo. Sempre digo que as crianças tendem a brincar com o que elas gostariam de ser quando crescerem, e foi o meu caso. Eu fazia de tudo na área teatral: dirigia, interpretava, produzia, criava cenários... Reunia os amigos, montava um espetáculo, convidava os pais e ainda cobrava ingresso! É claro que minha vocação foi potencializada pelo fácil acesso que tive a esse universo, graças aos meus pais. Tudo sobre teatro sempre esteve muito acessível para mim.


O ego, normalmente, caminha lado a lado com a profissão de atriz. Como lida com ele?


BG - O ego é a pior coisa da profissão, ele cria uma máscara. Ele até exerce uma função importante na vida da gente, já que temos de usá-lo, às vezes, como defesa. Mas exacerbá-lo é ruim. E o pior é que você não lida só com o seu, mas também com o dos outros, numa verdadeira fogueira das vaidades. É importante ter equilíbrio para não deixar que ele te dê uma rasteira. O grande obstáculo para o ator é ele mesmo, é a auto-imagem, que você tem de afastar para que o personagem possa existir.



Por Renata Cerqueira

Você já sabe o final




Charmosos, bom de papo e cheios de jogo de cintura. Pelo menos é assim que os maiores sedutores são representados nas telenovelas. Fugindo de compromissos, eles levam a vida namorando uma aqui, enrolando outra ali... e assim vão seguindo, distribuindo risadinhas e cantadas por onde quer que respirem.

Para a psicóloga Cinthia Fontes, especializada em psicologia clínica, esse comportamento geralmente pode ser atribuído a conflitos emocionais que ainda não foram solucionados . “É como se procurassem em cada mulher a cura para seu vazio existencial e acreditassem que é função da parceira completá-los em todos os sentidos, o que é uma missão impossível.”

Um dos conflitos apontados pela psicóloga, por exemplo, pode estar relacionados às decepções amorosas sofridas no passado. Na novela "Paraíso Tropical", o personagem Mateus, interpretado por Gustavo Leão, ilustrará bem o que um coração partido pode acarretar no comportamento de alguém. Apaixonado por Camila (Patrícia Werneck), o rapaz seguirá os passos do pai (Marcello Antony) e cairá na vida dos que não querem nada, além de curtir muito com várias mulheres. E tudo isso somente tentar esquecer a moça que um dia o dispensou...

Mas, como todo mulherengo não costuma ter uma história muito longa em telenovela, aposto que o destino de Mateus será o mesmo que aquele já visto em outras tantas tramas... no final das contas, o amor pela mocinha falará mais alto e ela irá "resgatá-lo" das garras da vida mulherenga, tão agitada e cobiçada pelos outros homens. Bem clichê, eu sei, mas... no fundo, no fundo, não é o que todo mundo espera?

Por Renata Cerqueira

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Tarzan


Aproveitando a deixa do último post, venho tratar de um elemento que, estereotipado ou não na novela “Paraíso Tropical”, ainda faz parte da nossa sociedade e, principalmente, faz parte da cultura de diferentes segmentos sociais: o machismo.

Para exemplificar a questão acima usarei como exemplo Antenor Cavalcanti, personagem interpretado por Tony Ramos. Depois de trair a esposa e fazer aquelas velhas promessas para a sua jovem amante (Maria Fernanda Cândido), Antenor deu um ataque machista ao descobrir que a sua (ex?) esposa Ana Luísa tinha decidido seguir a vida depois de traída, namorando um menino também mais novo, Lucas.

Mas o mais “interessante” são os argumentos do personagem de Tony Ramos na hora de expor sua raiva. São clichês do tipo “mas eu sou homem!” ou “que papel ridículo para uma senhora!” ou, ainda, “o menino tem idade de ser filho dela!”. De forma estereotipada ou não, a questão é que ninguém pode negar que o machismo se faz presente na sociedade de forma bastante intensa ainda nos dias atuais.

Seja com os mesmo argumentos extremistas de Antenor ou de forma mais mascarada, não só os homens, mas também as mulheres, continuam com muitos resquícios machistas, herdados por sociedades passadas. E esse não é um elemento que, como muitos, é determinado pela divisão econômica da sociedade.

O machismo é um elemento cultural antigo, repassado de forma tácita pelas práticas culturais, estando presente em todos os segmentos econômicos da população do país. Não existe sexo, cor ou status social. Qualquer um pode apresentar, e, na grande maioria dos casos, apresenta, valores culturais que subordinam a mulher e sua posição dentro da sociedade às questões masculinas, jogando as vontades e necessidades femininas para segundo plano.

É claro que essa é uma questão que vem sendo mudada ao longo do tempo, mas, mesmo depois de tantos anos do patriarcalismo, continuamos com uma cultura excessivamente machista. Apesar de fictício, o personagem de Tony Ramos serve para, mais uma vez, podermos debater esse tema dentro da sociedade, discutindo seus efeitos e possíveis soluções (mesmo que em longo prazo). Atitudes como estas são de extrema importância para estremecer as amarras que vinculam o nosso país a uma cultura arcaica e subdesenvolvida.

por Juliana Lopes

Verdade Fictícia


Finalmente, a prova concreta de que novela e realidade são duas coisas bem distintas! Ninguém melhor do que um experiente autor, renomado dentro da Rede Globo, para confirmar o que venho dizendo há alguns post’s.

No penúltimo domingo, dia 20 deste mês, estava eu assistindo ao Domingão do Faustão (só eu que admito que assisto), à espera da “Dança dos Famosos”, quando surgiu uma discussão nada clichê: o debate sobre o relacionamento de mulheres mais velhas com meninos jovens. A situação foi exposta no programa através do mais recente casal que conquistou o país e ajudou “Paraíso Tropical” a subir uns pontinhos no ibope: Ana Luísa, interpretada por Renée de Vielmond, e Lucas, interpretado por Rodrigo Veronese.

Enfim, histórias à parte, o que mais me chamou a atenção foi a fala de Gilberto Braga, autor da trama. De forma bem direta e, agora sim, realista, Braga explicou por que decidira separar, temporariamente, o casal, inventando uma viagem para Lucas. O argumento dele foi que o romance não era real; tratava-se de mais uma ficção voltada para o entretenimento do telespectador.

É comum, atualmente, vermos casais com diferenças de idade entre os parceiros, vivendo como qualquer outro casal, afinal de contas é exatamente isso que eles são. Entretanto, para o autor da novela, se os dois continuassem juntos até o final, tornar-se-iam , apenas, “uma mulher mais velha e um cara mais novo se beijando o tempo todo, sem parar” (e isso não traria audiência para a já abalada novela).

A fala de Braga nos mostrou, nitidamente, a visão de quem tenta conduzir as expectativas e os sentimentos dos telespectadores, através da elaboração de seu produto. Em busca do retorno esperado, os autores se utilizam de elementos que, na maioria das vezes, fogem à realidade, prendendo-nos, justamente, pela fantasia, pela capacidade de poder nos levar a um mundo do qual gostaríamos de fazer parte.

Espero, enfim, que, depois de tanto argumento e de tanto espaço destinado a esse tema, eu tenha conseguido, definitivamente, provar que as novelas “fingem” imitar a realidade, mas, na verdade, acabam seduzindo o telespectador, justamente, pela razão oposta. As tramas constroem uma relação com o receptor, onde este se transpõe para um mundo fantasioso, adaptando características imaginárias, as quais desejaria viver, à sua própria realidade.

por Juliana Lopes

Não é Bem Assim


É fácil culpar Taís e enaltecer Paula (“Paraíso Tropical”)! Mas quem é você para julgar personagens com complexas relações familiares e difíceis histórias de vida?

Taís é a má, a miserável que quer passar a pobre coitada da Paula para trás. Tudo bem que a irmã boazinha teve uma vida difícil, enfrentando preconceitos por ter uma “mãe de vida fácil”. Mas, se considerarmos que o relacionamento entre parentes e, especificamente, entre irmãos já é complicado, imagine entre irmãos “idênticos”?

Com uma vida também sofrida e criada no subúrbio, Taís não soube lidar muito bem com esse negócio de reencontrar sua cópia em “pele de cordeiro” depois de vários anos. Façamos um esforço para entender o lado da parte má da história.

Se Paula conseguiu assimilar tudo, encarando os fatos que surgiam de forma positiva, é compreensível que Taís não tenha conseguido o mesmo. Como afirma a jornalista Daniela Dias em seu artigo “Gêmeos não são iguais”, a semelhança física não é sinônimo de comportamentos idêntico. Os gêmeos têm maior propensão a ter afinidades, mas possuem personalidade, temperamento e anseios distintos”.

A dificuldade econômica pela qual a “vilã” passou, associada a uma personalidade diferente à da irmã (enquanto uma enfrentava as dificuldades trabalhando pesado, a outra tentava satisfazer sua ambição de forma mais fácil e eficaz), tornou-a uma mulher ambiciosa, que vê na sua cópia uma possibilidade de ascensão financeira.
Tudo isso porque a personagem má de Alessandra Negrini não conseguiu, em dois dias, cultivar o amor de irmã inseparável, como a personagem boa da atriz conseguiu. Para a “ovelha negra”, a irmã é, apenas, uma estranha em formato idêntico ao seu.

A maior prova, entretanto, de que Taís não é essa bruxa que tentam "pintar" (isso só com “Eterna Magia” mesmo) é que ela não faz mal a quem gosta. E daí se ela só gosta de uma pessoa no mundo (Cássio, Marcello Antony)? Pelo menos, até onde eu assisti, a esse ser iluminado ela não faz mal.

Pois é isso! Julgar é fácil! Mas vai você meter a colher onde não é chamado?! Bastam algumas semanas e já nos achamos na condição de podermos criticar e/ou elogiar personagens que cresceram longe dos nossos olhos! Achamos que, só com alguns capítulos, já colhemos informação suficiente para dizermos quem é bom ou ruim. Haja petulância!

por Juliana Lopes

História de Terror


Depois de insistir em temas espiritualistas com “Alma Gêmea” e “O Profeta”, a Rede Globo parece ter mudado o enfoque dos fenômenos sobrenaturais que vinham se perpetuando no horário das seis. A nova novela “Eterna Magia” é uma mistura de elementos macabros e místicos, com um clima meio trash.

Alguns personagens da trama causam medo no público, mas não pelos fenômenos esotéricos que os envolvem, e sim pelo seu visual (roupa, cabelo e maquiagem). O que é Cássia Kiss nessa novela? E aquela velhinha que fica abordando Malu Mader?

Além do aspecto visual, outro elemento esquisito pertencente à novela das seis são os rituais de bruxaria que circundam alguns personagens (a exemplo de Eliane Giardini). Nesse contexto, o fator essencial de suporte para a construção de tais fenômenos místicos é o nosso grande mago, Paulo Coelho! Figura por si só já meio macabra, aquelas roupas escuras e aquela fala baixa, decorada e pausada criam pânico em qualquer espectador com sensibilidade razoável.

Bruxaria, mago-escritor, roupas e maquiagem macabras constituem, portanto, os elementos nos quais se baseiam “Eterna Magia”. Saindo da questão espiritual que vinha guiando as novelas das seis, tal trama parece mais ser uma adaptação do “best seller Brida”.

por Juliana Lopes

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Vixe Maria! Deus e o Diabo na teledramaturgia!


Decepção! Logo eu, que sempre gostei de falar sobre o antagonismo, acabo de fazer uma das maiores conclusões da minha vida, a partir da leitura do grande teórico culturalista, Stuart Hall.

Sempre procurando afastar-se das simplicidades reducionistas e extremistas, Hall sempre procurou um meio termo para seus estudos sobre a realidade. Analisando, inclusive, a recepção nos meios de comunicação, o culturalista mostrou que nada é totalmente bom ou ruim.

Sendo assim, desloquei os estudos desse grande teórico para a nossa realidade atual e notei que a vida, tirando algumas exceções, aberrações, filhas do cão que existem por aí, é composta por seres humanos “normais”, com qualidades e defeitos. Ninguém pode ser 24h ruim, como “Nazaré” de Senhora do Destino, por exemplo, nem tão boa moça, como “Paula” de Paraíso Tropical.

Claro que algumas pessoas possuem mais qualidades, enquanto outras são repletas de defeitos. Mas tem uma hora do dia, aquele momento da pessoa consigo mesma, que algum ser muito iluminado comete uma “maldadezinha” que seja, ou algum miserável desses, aí, resolve fazer uma bondade qualquer, para tentar reverter um pouquinho seu quadro lá, "em cima".

Só que, nas novelas, não! Os autores constroem cada mostro estereotipado, de forma a parecer a coisa mais comum do mundo encontrar uma “Leona”, roubando uma “Luxus” todo dia ou matando um Francisco Cuoco, antes do jantar (Cobras e Lagartos)!

Stuart Hall e seus Estudos Culturais! Ou deixo de ler o teórico ou perco meu interesse nas novelas (começo a achá-las tão previsíveis!). Ô, dúvida cruel!


por Juliana Lopes

O desfecho de um Café da Manhã


Ainda seguindo o princípio de que as novelas tentam, mas não conseguem representar a realidade, o blog A Novela vem, nesse post, mostrar algumas evidências que sustentam a afirmação acima.

Em primeiro lugar, ninguém nunca se perguntou COMO um personagem que está, lá, com cara de abestalhado, lembrando do beijo que deu, minutos antes, no grande amor da sua vida, consegue reproduzir todas essas recordações do mesmo ângulo que nós, receptores, enxergamos tais cenas?

Nas novelas, um personagem, ao recordar algum fato, vê suas lembranças se desenharem na memória, igual àqueles que as enxergam de fora. Como pode uma pessoa conseguir se ver durante um beijo? Quem consegue a proeza de ver o biquinho que fez na hora de beijar alguém?

Fora essa, que sempre considerei a falha mais curiosa, existem outras falhas bestas que diferem a vida comum daquela enquadrada na telinha. Por exemplo, nas novelas, os telefones e/ou celulares costumam tocar muito mais do que o normal. Dá tempo de o personagem trocar de roupa, fazer xixi e ainda pegar um copo d’água na cozinha, “se der mole!”.

E o café da manhã? É incrível como as pessoas, nas tramas, definitivamente, não conseguem concluir a primeira refeição do dia. Eu já desisti! Rapaz, com tanta variedade de comida, eu deixei de tentar entender por que os personagens não acordam mais cedo para se esbaldarem naquele vistoso café, já que sempre estão atolados de compromisso!

Olhe, prefiro ficar com a célebre frase de Woody Allen: “a arte não imita a vida” coisíssima nenhuma (ou algo parecido com isso!). Meu celular e meu café da manhã estão, aqui, como provas concretas de qualquer dúvida que ainda possa haver acerca desse negócio de que novela representa a realidade. Só se for a da galera mais abonada financeiramente!


por Juliana Lopes

sábado, 12 de maio de 2007

Atrás da bandeira



Depois de se elogiar a tendência das telenovelas em retratar o mundo gay com maior naturalidade, chegou o momento de tecer algumas ponderações. Para começar, embora a iniciativa seja importante, é preciso ressaltar que essa “naturalização” tem um limite muito claro dentro das tramas. Prova disso é que todo mundo sabe que essa abordagem não inclui beijos na boca, declarações de amor ou cenas mais explícitas de carinho.

Só que, ao contrário do que se pode pensar, os limites não param por aí. Existe uma série de pontos que, por serem pequenos, acabam passando quase que imperceptíveis para muitos telespectadores. No entanto, são justamente esses detalhes que mostram que, de alguma forma, o preconceito continua ali, intocável, embora esteja disfarçado.

Será que alguém já reparou, por exemplo, como um personagem gay apresenta o seu parceiro? Geralmente, costuma se dizer apenas “esse aqui é fulano”, omitindo a parte em que se assume a relação amorosa, como seria em “esse aqui é fulano, meu namorado”.

Com isso, a crítica que se faz a essa “naturalização” não está no fato de que essa abordagem não bate de frente, de maneira explícita, com o preconceito. O que está se questionando aqui é que essa representação “natural”, da forma como está sendo feita, está escondendo o preconceito em detalhes, mascarando-o através de uma abordagem em que tudo parece ser aceito “numa boa”.

Por que apenas deslocar o lugar do preconceito? Por que não ir justamente em cima da discriminação que está ali, escondida, arraigando-se na sociedade?

Embora as questões sejam muitas, a única certeza é que no dia em que alguém decidir fazer alguma coisa diferente de “jogar poeira para debaixo do tapete”, certamente se baterá de frente com a maior das discriminações que assolam o país: aquela que é velada pelo discurso “politicamente correto”.


Por Renata Cerqueira

Era para rir?


Todo mundo gosta de dar umas boas risadas, e as novelas bem sabem disso. Não é à toa, por exemplo, que cada trama traz consigo um núcleo cômico – aquele que será responsável por criar as situações mais inusitadas e os trejeitos mais marcantes. Só que, se por um lado, tudo isso pode sair conforme o combinado, por outro, os escritores podem perder a mão na hora de construir o humor e, com isso, acabar gerando situações pra lá de decepcionantes.

A novela Luz do Sol (Record), por exemplo, possui Paloma Duarte e Petrônio Gontijo como representantes desse núcleo. Compondo aquela velha história das pessoas que vivem brigando e não admitem que se amam, as duas personagens vivem se metendo em confusão, apresentando aquilo que seria a parte da comédia na novela. Só que, de tanto querer provocar graça, essas seqüências se tornam exageradas e acabam muitas vezes beirando o sem sentido.

Exemplos assim servem para mostrar que, no meio da empolgação, atores, diretores e escritores acabam se esquecendo que o segredo do humor está na simplicidade. Quem é que não se lembra da risada de Nair Belo, por exemplo? Sem precisar fazer caras e bocas, piadinhas ou falar de forma espalhafatosa, a atriz conseguia arrancar risos do público com apenas uma boa gargalhada. Isso acontecia porque o telespectador conseguia perceber o quanto a sua interpretação era espontânea e, conseqüentemente, leve e engraçada.

O que se observa, portanto, é que para que algo seja bem elaborado em uma novela, tem que se buscar a famosa “moderação” das propagandas de cerveja. Não adianta tentar enrolar o público, construindo cenas em que tudo é exagerado e forçado, porque o telespectador não vai se sentir envolvido; pelo contrário, é até provável que ele se sinta menosprezado diante de seqüências tão fracas e que se dizem especialmente feitas para a sua apreciação.


Por Renata Cerqueira

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Elas não são mais as mesmas



Depois de revelar o seu gosto por clichês em uma entrevista, Gilberto Braga achou que estaria livre de futuras críticas acerca das semelhanças entre as gêmeas Paula/Taís de Paraíso Tropical e Ruth/Raquel de Mulheres de Areia. Mas parece que a estratégia não deu muito certo. As comparações são muitas e inevitáveis, dando indícios de que, quando uma personagem marca demais, existe uma chance muito grande de que uma “versão” futura não consiga vida própria.

Mas se não bastasse o problema de as gêmeas atuais serem vistas em referência àquelas de uma trama anterior, ainda existem pelo menos dois outros fatores que atrapalham que as irmãs de “Paraíso Tropical” emplaquem de vez. Enquanto a primeira razão está relacionada à já tão comentada falta de química entre Alessandra Negrini e Fábio Assunção, o segundo motivo envolve à própria representação da atriz.

Para distinguir a irmã maquiavélica da boazinha, Alessandra tem adotado uma interpretação que parece se basear na idéia de “oito ou oitenta”. No entanto, o problema aqui não reside no fato de uma irmã ser boa demais, enquanto a outra é a maldade em pessoa. O grande entrave está em adotar uma postura excessivamente caricatural, em que não há naturalidade em nenhuma das duas personagens.

Resultado, no meio desse joguinho de “adivinha qual das duas sou eu”, boa parte do público só consegue lembrar de como era suave a transição feita por Glória Pires, através das hoje tão saudosas Ruth e Raquel.


Por Renata Cerqueira

Por um amor além do piegas



Grandes romances. É isso que boa parte do público espera a cada nova novela que entra no ar. Tem que ter a química entre os atores, a troca de olhares, o famoso toque entre as mãos depois dos livros caírem. Tudo bem que pode ser até clichê, mas e daí? O importante é que o público goste e se identifique - o que constantemente acaba acontecendo mesmo.

Muitos telespectadores, por exemplo, dão a maior prova de que foram fisgados nos gestos mais simples e inconscientes. Para perceber um desses indícios, basta prestar atenção no sorrisinho que surge nos lábios de muitos daqueles que estão acompanhando o mocinho dizer “eu vou lutar por você” ou a mocinha com o “eu sempre vou te esperar”.

Tudo muito bonito, muito romântico, mas existe algo a mais que me chama a atenção. Será que alguém vem reparando em como, na tentativa de representar um amor intenso e sincero, muitas telenovelas vêm exagerando? Os personagens nunca se viram, sequer sabem o nome um do outro, mas simplesmente se olham e se amam, tudo para ontem. Isso quando não são ditas juras de amor eterno logo no primeiro encontro, com direito a olhos marejados e tudo.

Embora se saiba que elementos assim funcionam com muitos telespectadores, essas abordagens soam simplistas demais. Tudo bem que as telenovelas busquem fazer com que o público sonhe acordado, mas será que isso só é possível através de uma abordagem que, de tão piegas, parece até forçada? Será que o amor construído dia após dia é sem graça demais para conquistar a simpatia e despertar o imaginário do público?

Nada contra o romance meloso, mas o que se questiona é até quando se conseguirá manter a magia de um mundo possível diante de um público que cada vez mais vem pontuando: amores assim, “só em novela mesmo”...



Por Renata Cerqueira

A arte imita que imita a vida


Trabalhando com um objeto veiculado no meio de comunicação que, há anos, atinge um enorme contingente de pessoas, o blog A Novela não poderia deixar de falar da relação entre os meios de massa e a sociedade. Uma vez que tentam agregar diferentes culturas, para atingir os mais diferentes setores sociais, os meios de comunicação têm utilizado as telenovelas como uma poderosa arma na construção de um discurso hegemônico.

A tentativa, muitas vezes apenas aparente, de nos fazer representados nas telenovelas pode ser detectada através da presença de alguns elementos culturais em tais tramas. Os problemas cotidianos de uma família brasileira “comum”, de classe média, e a religião católica sempre constante através das figuras dos padres são exemplos concretos de que os meios de massa tentam abordar aspectos comuns da vida dos telespectadores, na busca de uma identificação com estes.

Com aquele papo de que “a arte imita a vida”, a Indústria Cultural, cada vez mais, procura mostrar personagens que qualquer um de nós poderia encontrar na rua, sem, no entanto, se preocupar se o grupo social do qual aquele personagem finge fazer parte está, de fato, inserido na sociedade.
Ou seja, com um discurso aparente de diversidade cultural, os meios de massa fingem representar os espectadores, para obter audiência do maior número de pessoas possível e continuar mantendo a sociedade do jeitinho que ela está: nós, atrás da televisão, e eles, lá, pautando nossa agenda e nossos interesses.

É claro que não estacionei no pessimismo determinista e reducionista dos meios como “monstros terríveis”. Os receptores, evidentemente, podem fazer e fazem filtros seletivos dos conteúdos oriundos da Indústria Cultural. Isso sem falar nos meios alternativos que têm-nos permitido veicular idéias.

Mas as novelas, ainda assim, continuam a fazer parte da estratégia de busca de audiência através de um processo de identificação com o espectador. A vontade de imitar a realidade é tanta que, na maioria das vezes, o que se tem percebido são desastrosos estereótipos. É aquele baiano falando “oxénte”, é aquele preto, pobre e bandido ou aquele “gay-borboleta”, que só falta voar.

De qualquer forma, com maior ou menor intensidade e levando-se em conta as saídas alternativas, os discursos veiculados na televisão já inseriram, na nossa agenda, o hábito de assistirmos à nossa representação, principalmente, depois do “boa boite!”de Bonner.



por Juliana Lopes

O fascinante medo


Lendas e mitos circundam o mundo imaginário das novelas. Aproveitando-se de um elemento da cultura popular, o universo da ficção cria estranhas e intrigantes lendas que sobrevivem entre os personagens das tramas.

Quem não se lembra do temeroso “Cadeirudo”? Com aquela coçada de pernas e aquele andar totalmente atípico, a estranha figura assombrava as inocentes (talvez, nem tanto!) mocinhas de Greenville em “A Indomada”. Falou em noite de lua cheia, não tinha outra! Eram aquelas pernas tortas, saltitando rumo às presas. Numa mistura de Don Juan com Lobisomem, havia quem ainda suspirasse pela misteriosa criatura.

Outra lenda viva na memória de grande parte dos telespectadores nascidos em meados da década de 80 é a inesquecível “Mulher de Branco” da novela “Tieta”. Os moradores daqueles sombrios cenários temiam a chegada da intrigante personagem. Sempre vestida com a cor branca e sem revelar sua verdadeira identidade, aquela mulher misteriosa inspirava algo de ruim, mas, ao mesmo tempo, fascinante.


Essa mistura de medo e admiração, aliás, é a característica marcante dos mitos e das lendas, não só nas novelas, mas daqueles inseridos na própria cultura popular. Independente do grau de imaginação, as tramas se utilizam de um elemento do imaginário que cerca o povo, na construção de um persanagem que inspira medo e fascínio no "fantástico mundo da ficção" (e bota fantástico nisso!).
por Juliana Lopes.

Estica-e-Puxa


Como a estética pode “robotizar” atores? Não se trata de julgar a qualidade da atuação destes, coisa que já foi feita em outro post. A questão é saber como algumas mudanças que os artistas fazem no visual podem influenciar no seu trabalho nas telenovelas.

Para exemplificar a situação mencionada acima, ninguém melhor do que a “semi-humana” Vera Fisher. Foi tanto silicone que a pobre coitada quase pára de andar. “Dura-feito-um-pau”, ela parece ser guiada pelos enormes volumes que compõem sua comissão de frente. A criatura, quase robô, não consegue nem mexer mais a coluna.

Outra prova concerta (“concreta” mesmo) de que nem sempre vaidade é algo bom para as novelas é a atriz Sônia Braga. Depois de anos longe do país, a inesquecível “Gabriela” voltou outra (“máquina”). Também estática e inexpressiva, Sônia parece que “se esticou demais”. Na tentativa de voltar à pele de Gabriela, a atriz não consegue mais representar metade das emoções que um personagem precisa ter. É, praticamente, uma versão feminina do inesquecível cigano Ígor (ele mesmo!).


Embora muitos neguem, beleza, principalmente em novela, ainda é fundamental, sim! Pelo menos, para o ator que deseja ter um papel de destaque. Mas há um limite na vaidade. O exagero, além de servir como arma oposta para a qual cirurgias e botox têm sido utilizados, acaba por interferir na própria atuação dos “artistas-robôs”.



por Juliana Lopes.

Depois do FIM ainda há vida


Final de novela é sempre bom. Seja porque você não agüentava mais a trama e queria que viesse logo a próxima, seja porque você estava ansioso para saber o destino dos personagens que aprendeu a amar durante meses. O fato é que, considerando o antagonismo entre mocinhas e vilãs, os desfechos são bastante diferentes nos dois universos.

As mocinhas, nos últimos capítulos, sempre acabam se casando com seus príncipes encantados, grávidas (algumas já com um belo pimpolho de cachos d’ouro), ou, ainda, reencontrando algum filho pelo qual procurou a novela inteira (essa onda “Nazaré” parece ter virado moda nas tramas). A pergunta é “e se a novela continuasse?”.

Provavelmente, essas lindas e meigas mulheres estariam uns 20 kg mais gordas, tendo de se matar de trabalho para sustentar o, agora, pré-adolescente filho, insuportável, cheio de piercing e com um moicano, ainda d’ouro, mas sem cachos.

Com certeza, a mocinha, agora já não tão moça, estaria pensando se, naquele casamento prosseguido pelas famosas letrinhas “FIM”, cena limite na qual o autor nos permite chegar, ela tivesse voltado atrás. Se ela tivesse adiado alguns anos aquele sonho de adolescente e tivesse investido mais na sua carreira profissional ou se tivesse posto em prática o plano de fazer aquele regime sempre adiado.

Do lado oposto das tramas, por sua vez, chegado o fim da história, as vilãs, quando não morrem, não são presas ou não enlouquecem, acabam viajando com algum empresário milionário, num daqueles incríveis Cruzeiros, já pensando em como extorquir cada paletó importado daquele coitado senhor.

Cercada de champagne, com vestidos estonteantes e, naturalmente, sexy (a vilã é sexy por natureza), as malvadas personagens, provavelmente, viveriam seus próximos anos intensamente, conhecendo novas pessoas com diferentes culturas. Rapaz, se não morreu, nem enlouqueceu, o que vier é lucro (e haja lucro!).

Entre ficar com a barriga encostada no fogão, cozinhando para um “pré-aborrecente”, e viver navegando, desfilando belas jóias, não sei se essa tal de “honestidade” que distingue mocinhas e vilãs vale à pena, não! Se fosse na “vida real”, tudo bem; era um caso para se pensar! Mas, aproveitando o mundo fictício em que vivem tais personagens, me pergunto: o que é que essas mocinhas, tão bonitinhas, tão novinhas, estão fazendo com suas vidas? Já se foi o tempo em que casamento era sinônimo de “e foram felizes para sempre”.



por Juliana Lopes.