sábado, 12 de maio de 2007

Atrás da bandeira



Depois de se elogiar a tendência das telenovelas em retratar o mundo gay com maior naturalidade, chegou o momento de tecer algumas ponderações. Para começar, embora a iniciativa seja importante, é preciso ressaltar que essa “naturalização” tem um limite muito claro dentro das tramas. Prova disso é que todo mundo sabe que essa abordagem não inclui beijos na boca, declarações de amor ou cenas mais explícitas de carinho.

Só que, ao contrário do que se pode pensar, os limites não param por aí. Existe uma série de pontos que, por serem pequenos, acabam passando quase que imperceptíveis para muitos telespectadores. No entanto, são justamente esses detalhes que mostram que, de alguma forma, o preconceito continua ali, intocável, embora esteja disfarçado.

Será que alguém já reparou, por exemplo, como um personagem gay apresenta o seu parceiro? Geralmente, costuma se dizer apenas “esse aqui é fulano”, omitindo a parte em que se assume a relação amorosa, como seria em “esse aqui é fulano, meu namorado”.

Com isso, a crítica que se faz a essa “naturalização” não está no fato de que essa abordagem não bate de frente, de maneira explícita, com o preconceito. O que está se questionando aqui é que essa representação “natural”, da forma como está sendo feita, está escondendo o preconceito em detalhes, mascarando-o através de uma abordagem em que tudo parece ser aceito “numa boa”.

Por que apenas deslocar o lugar do preconceito? Por que não ir justamente em cima da discriminação que está ali, escondida, arraigando-se na sociedade?

Embora as questões sejam muitas, a única certeza é que no dia em que alguém decidir fazer alguma coisa diferente de “jogar poeira para debaixo do tapete”, certamente se baterá de frente com a maior das discriminações que assolam o país: aquela que é velada pelo discurso “politicamente correto”.


Por Renata Cerqueira

Um comentário:

Valéria Vilas Bôas disse...

http://mixbrasil.uol.com.br/farofadigital/panorama_paraiso.htm