domingo, 3 de junho de 2007

Por alguém de verdade


Eu não gosto das mocinhas. Sempre boas, puras e com a fala mansa, não é à toa que elas conseguem irritar tanto as vilãs.

Tá, mas eu também não gosto das vilãs. Sempre com aquele ar pesado, pensamentos sombrios e risada maquiavélica, não me espanta que atormentem constantemente as mocinhas.

Não, eu não estou confusa. É que o fato de quase tudo ser em preto ou branco nas telenovelas vem me incomodando. Tudo tão maniqueísta e exarcebado! As mocinhas combatendo o mau, as vilãs armando planos intermináveis - quase um daqueles contos de fadas com bruxas e princesas, com a diferença de que, pelo menos até onde se sabe, não existem dragões ou sereias nos cenários de Copacabana...

Comecei a pensar em tudo isso depois que li uma matéria sobre Heroes, um seriado norte-americano. No texto, alguém dizia que o motivo de tanto sucesso da produção estava ligado ao fato de que os personagens eram, apesar de seus superpoderes, tangíveis, humanos... e, com isso, seres complexos, dúbios, instáveis. Segundo a matéria, isso atrairia o público, uma vez que proporcionaria um maior grau de identificação com o telespectador (que, afinal de contas, também gosta de se reconhecer ali na telinha).

Transpondo essas observações para o universo do blog, acho que essa complexidade falta em muitos personagens de telenovelas. Talvez porque se pense que recorrer a figuras dúbias pode representar um risco... afinal, é mais simples e certeiro repetir as velhas fórmulas de sempre. O bom que só faz o certo, o mau que só age de forma errada e o telespectador que sempre acompanha à mesma separação.

Tudo isso cansa. E o risco aqui está em se quebrar aquele pacto ficcional em que o telespectador assume: "eu sei que vocês estão interpretando, mas eu fingirei que é verdade...". Afinal, diante de tanto maniqueísmo, será que dá mesmo para o público acreditar, por mais de alguns instantes, na veracidade dessas atuações?


Por Renata Cerqueira

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